Bolsonaro mira em cinema, mas dá headshot em games
Jair Bolsonaro está avacalhando o futuro da indústria de games do Brasil – e não tenho sequer certeza de que ele tenha consciência disso.
Ao iniciar uma cruzada contra a Ancine, Agência Nacional do Cinema, órgão que fomenta produções audiovisuais brasileiras, ele acaba dando uma bela porrada na indústria de games porque a Ancine também fomenta games e eventos como o BIG Festival. A decisão de cortar 43% da verba da Agência significa que o plano de investimento recorde de R$ 45,2 milhões somente em games, que tem potencial de transformar para melhor o mercado produtor brasileiro de jogos, não verá a luz do dia. Boom! Headshot.
Amigo dos games só no Twitter
Quando o presidente acenou e fez graça para os gamers brasileiros, há pouquíssimo tempo, não precisava ser Bidu para deduzir que poderia ser mero populismo de mídias sociais. De fato, agora dá para concluir que foi: a redução tributária mudou praticamente nada na vida dos gamers, e mudou zero na vida dos desenvolvedores (aqui dei sugestões de como de fato melhorar o nosso mercado).
Só que, com a caça às bruxas que Bolsonaro prega na Ancine, ele mostra que não se importa absolutamente nada com a Indústria brasileira de games. Pelo contrário, está se esforçando para barrar o progresso conquistado nos últimos anos e atrapalhar o futuro do setor.
Nosso mercado produtor de games ainda engatinha, especialmente se comparado com outros países que trabalham esta indústria há muitas décadas, como Japão, EUA, Canadá; e, salvo algumas exceções, as empresas nacionais ainda precisam de fomentos para criar, produzir e lançar produtos no altamente competitivo mercado de games global.
Pense como se a Ancine fosse as rodinhas da bicicleta de quem está aprendendo a andar. Daqui a pouco a pessoa (ou, no caso, o estúdio) pega o jeito e sai andando sozinha, dispensando o auxílio. Esta é a função da Ancine para o incipiente e promissor mercado de games.
Mamar nas tetas
"Mimimi também, vocês querem mamar nas tetas do Estado Mimimi".
Negativo.
Primeiramente, saiba que o Fundo Setorial do Audiovisual se retro-alimenta: é o consumo em produtos audiovisuais que gera o recurso. Cada filme de herói que você vai ver no cinema gera um dinheirinho para o fundo, que então investe isso em produções nacionais. Ou seja, o setor gera as verbas que o próprio setor utiliza.
Segundo, incentivos para indústrias criativas ocorrem no mundo inteiro. Você sabia que no Canadá o governo pode pagar até metade do salário de profissionais contratados por empresas privadas que trabalhem em tecnologia e inovação? Pois saiba que games incríveis como FIFA, Assassin's Creed Odyssey e Don't Starve, são todos produzidos com incentivos fiscais do Canadá. Sim, EA, Ubisoft e centenas de outras desenvolvedoras "mamam" no governo canadense.
Terceiro que dinheiro de fomento é muito importante para alavancar um setor. O Brasil começou muito atrasado a desenvolver games, tendo mais firmeza somente no início desta última década de 2010. São cerca de 30 anos de atraso com relação a EUA e Japão; 20 anos com relação a Canadá, Reino Unido e Coréia do Sul; 10 com relação à Polônia e Finlândia, para citar alguns. O fomento nos permite correr atrás deste prejuízo, colocando produtos no mercado – claro que nem todos serão nota 10 – e aprendendo com as experiências, gerando empregos e levando os estúdios a, cada vez mais, aumentarem a qualidade do que produzem e as receitas de exportação de um Brasil que produza games.
Eu torço para que o presidente desista dessa caça às bruxas sem nexo e sem fundamento que acabou espirrando em games – sei lá eu se conscientemente ou não. Não leva a nada e atrapalha, muito, algo que vinha dando certo.
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